terça-feira, 9 de novembro de 2010

IDEIAS PARA TODOS - SÃO MARTINHO



A INDIFERENÇA


Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

                                         - Bertolt Brecht -





Passado um ano desde que o convidámos a celebrar o São Martinho ao som das sábias palavras de José Mário Branco e dada a preocupante situação de que nos dão conta as notícias que todos os dias nos chegam sobre o país e o mundo, achámos que não seria descabido usar o São Martinho como pretexto para emitir um alerta geral.
Porque as palavras são a nossa principal matéria-prima e porque a tendência é hoje cada vez maior para justificar desatenção e alheamento com falta de tempo e disponibilidade, propomos-lhe um texto que, além de curto, prescinde de subtilezas e subterfúgios e é suficientemente explícito para não deixar margem para dúvidas.
O texto, um dos mais emblemáticos poemas de Brecht, é um clássico, sobejamente conhecido e falha talvez no efeito surpresa mas é também um texto de sabor forte e que não deixará certamente indiferente nem os palatos menos sensíveis.
A nossa sugestão é que imprima o pdf que preparámos para si num papel de cor e textura à sua escolha, tantas vezes quantas as necessárias para garantir que cada um dos convidados recebe um exemplar (pelas razões óbvias, a nossa preferência recai sobre os tons outonais e claro que o papel kraft continua a ser uma escolha de eleição). Depois, é só recortar os quadrados de papel e transformar cada poema numa folha seca, dobrando-o segundo as instruções e tendo o cuidado de manter a face impressa para fora. Esta é uma dobragem bastante simples e de efeito surpreendente, portanto, faça pelo menos uma tentativa antes de desistir, uma sugestão que se aplica a tantas outras coisas na vida.
No fim, disponha as castanhas na travessa ou em pratos individuais e decore com as folhas secas. Polvilhar com erva doce acrescenta perfume e um toque de requinte à tradição. Sirva quente e espere que a mensagem surta o seu efeito.
Se São Martinho estiver do nosso lado e a conversa se proporcionar, dê um empurrãozinho à sorte e não se poupe na defesa desta causa. Entre os argumentos de peso, não se esqueça de incluir uma boa jeropiga ou água-pé. É que engolir em seco nunca foi boa política...
E aí tem mais uma dose de literatura levada à mesa pela Escrita(s) em dia. Uma ideia simples e prática para consumir sem restrições, usar e abusar... A Escrita(s) em dia agradece. E estamos em crer que Brecht também não se importará.
Se, além da erva doce, este ano quiser temperar as suas castanhas com poesia, peça-nos o ingrediente secreto em escritasemdia.carla@gmail.com. Para a dobragem, visite http://en.origami-club.com//flowers/leaf/index.html.

Despedimo-nos desejando-lhe um excelente Magusto, na companhia destas palavras e de outras que lhe apeteçam...

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