quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O PAI, O FILHO E A BICICLETA

Em Março, chegado o Dia do Pai, apresentámos mais uma criação que recrutou novos membros para o universo da E@D: nascia a trilogia O Pai, o Filho e a Bicicleta, uma santíssima trindade onde se contavam três versões da mesma história e que vinha acompanhada por três aperitivos de luxo: milho frito gigante, fava frita e cajus cobertos de caramelo. E sendo este um menu de degustação onde a ordem dos pratos é fundamental, as histórias devem ser lidas pela ordem em que os personagens aparecem no título.



A história nas versões...
Do pai
"Talvez ela também me respondesse simplesmente, Entendido, na mesma linguagem neutra de ponto- ponto- traço- traço- ponto, uma troca telegráfica de desilusões, pequenos sinais codificados que levavam consigo uma informação sem emoções, objectiva, despojada e eficaz. Se eu conseguisse, pela repetição compulsiva daquela pequena frase, Luísa, quero o divórcio, fazer com que tudo se resumisse a uma simples passagem de informação, talvez pudesse evitar- nos a todos um desgosto maior, o que se anuncia quando atrás de uma simples frase como esta vem o carpir de tudo o que se perde, a celebração do que desmorona, a ladainha arrastada de fazer o inventário das tristezas, dos desgostos, das saudades. Se eu conseguisse desligar esta frase do resto do alfabeto, se fizesse com que ela fosse apenas uma sequência de letras, aquém e além da língua que falamos, se ela deixasse de fazer parte da mesma língua em que se diz traição, afronta e infidelidade, talvez a Luísa entendesse que esta era apenas uma decisão anónima, sumária e conclusiva como uma certidão de óbito."
Do Filho
"Não era que ali estivesse por acaso... Mas havia qualquer coisa nos seus gestos, na maneira como falava e como se movia dentro de casa, na auto¬ determinação com que entrava e saía sem pedir licença, que eu interpretava como um aviso de que, ao mais pequeno passo em falso, ele podia ir-se embora. Deixar de estar ali. Deixar de nos pertencer. Talvez fosse por isso que me dava ao luxo de ignorar consecutivamente as ordens e os pedidos da minha mãe, levando-a por vezes a um estado próximo da loucura, ao passo que cumpria a mais ínfima instrução, à primeira voz de comando, assim que o meu pai erguia um pouco a voz e me abria os olhos. Com a minha mãe, partilhava um amor incondicional. Com o meu pai, sentia que era um amor negociado, disciplinado e com regras, em que a afeição se misturava com o respeito, e a autoridade espreitava até a ternura dos abraços. Um amor que dependia do meu comportamento e da sua aprovação."
E da Bicicleta
"Era o primeiro golo, o primeiro jogo visto no estádio, a primeira bifana e a primeira imperial, era o primeiro cigarro, o primeiro beijo e a primeira namorada. Era o primeiro amor feito à pressa e de urgência no banco de trás do carro velho que ele decerto lhe emprestaria nos dias em que entrasse mais cedo na faculdade. Era o diploma nas mãos e o primeiro emprego, a primeira casa e tudo quanto havia para saber sobre a argamassa de que são feitas as paredes, era o primeiro filho, o primeiro banho, a primeira palavra e os primeiros passos. Eram os primeiros cabelos brancos e as primeiras noites sem dormir e também as primeiras dúvidas que ele, pai, podia agora ajudar a esclarecer. E também todas as novas Primaveras que estavam por nascer, mesmo quando à primeira vista parece que o Inverno não tem fim..."
E outros pormenores...
Contém 3 versões da mesma história e três variedades de aperitivos
Produto disponível Natal/2009
Caixa €15

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